Porto de Sines

Porto de Sines

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

REMIX EM PESSOA


REMIX EM PESSOA - conferência de imprensa aberta ao público
Jô Soares escolhe uma série de poemas de Fernando Pessoa, porque o considera essencial e o amigo Billy Forghieri musica-os. O resultado é Remix em Pessoa. O projecto é lançado no Brasil, no formato CD, em 2007, e apresentado em vários teatros brasileiros, e a aceitação por parte do público e da crítica é enorme. A Espelho de Cultura apresenta pela primeira vez em Lisboa, Remix em Pessoa, no Teatro Villaret de 29 de Janeiro a 31 de Janeiro, e de 03 a 07 de Fevereiro.

Eis um desses poemas...
----------------------------------------------------------------------
Sou Eu

Sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco inconseqüente,
Como de um sonho formado sobre realidades mistas,
De me ter deixado, a mim, num banco de carro elétrico,
Para ser encontrado pelo acaso de quem se lhe ir sentar em cima.

E, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco longínqua,
Como de um sonho que se quer lembrar na penumbra a que se acorda,
De haver melhor em mim do que eu.

Sim, ao mesmo tempo, a impressão, um pouco dolorosa,
Como de um acordar sem sonhos para um dia de muitos credores,
De haver falhado tudo como tropeçar no capacho,
De haver embrulhado tudo como a mala sem as escovas,
De haver substituído qualquer coisa a mim algures na vida.

Baste! É a impressão um tanto ou quanto metafísica,
Como o sol pela última vez sobre a janela da casa a abandonar,
De que mais vale ser criança que querer compreender o mundo —
A impressão de pão com manteiga e brinquedos
De um grande sossego sem Jardins de Prosérpina,
De uma boa-vontade para com a vida encostada de testa à janela,
Num ver chover com som lá fora
E não as lágrimas mortas de custar a engolir.

Baste, sim baste! Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso, o bobo com o grande fato de outro,
A quem tinem as campainhas da cabeça
Como chocalhos pequenos de uma servidão em cima.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.

Sou eu mesmo, que remédio! ...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

sábado, 23 de janeiro de 2010

Fotografia "à la minute"

Hoje, venho falar de uma figura que, quando eu era criança se encontrava vulgarmente pelas praias, nas romarias, nas praças e jardins públicos mas que, na época actual desapareceu quase completamente. Tem isto a ver com a evolução dos tempos, claro!Estou a referir-me ao fotógrafo à la minute.Ele chegava, trazendo nas mãos tudo aquilo de que ia precisar, quer para a fotografia, quer para a sua revelação. Montava o caixote de fotografar sobre um tripé e ficava à espera dos clientes que quisessem deixar-se registar para a posteridade. Nas faces laterais da máquina havia algumas amostras das diferentes fotos que cada um podia escolher Na face traseira da caixa via-se um pano escuro e opaco, onde, às tantas, o homem enfiava a cabeça para fazer o enquadramento das pessoas que iriam ser fotografadas e, na face dianteira estava um fole preto com a objectiva na ponta. Depois, havia ainda um recipiente onde ele punha um líquido com um cheiro muito activo que faria aparecer a imagem no papel e, também, um balde com água onde, por fim, os retratos eram lavadas e finalmente postos a secar, com as molas utilizadas para os suspender, no fio amarrado às pernas do tripé.Quando o grupo estava já a postos, com um sorriso de orelha a orelha, lá vinha a voz do artista, de mão levantada a acenar:_“Olhó o passarinho”! Ao mesmo tempo apertava a bolinha de borracha que tinha na mão e que ligada ao caixote, fazia o disparo da foto.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

VAGAS

Sentado frente ao computador, congeminava um tema para "Azimute".
Ei-lo! Um presente enviado por um Amigo, trazido nas asas de um anjo, caído do céu, atravessa a minha porta, vem ter comigo:...VAGAS!!!
























Mais dois belos poemas de VAGAS: "Amigo" (dedicado a Fernando Pessoa) e "O Aprendiz" (poema preferido da Amália), ver comentários arquivo Azimute: Cesária Évora 2009 e Vasco da Gama 2010.
VAGAS poder-lhe-à chegar às mãos pelo correio. Basta enviar um "e-mail" para: carmopat@dbmail.com (Ver blogue-Tudo em Pratos Limpos).

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"A Àrvore das Patacas



Os portugueses tinham o gosto pela aventura, saíam de Portugal, procurando melhores condições de vida.
Manuel e Joaquim pertenciam a famílias consideradas remediadas. Ambos tinham a 4ªclasse da instrução primária. Eram muito amigos.
Em meados da década de setenta, do século XIX, resolveram emigrar e partiram rumo ao Brasil, não porque necessitassem, mas para ver como aquilo era ...

Manuel, a princípio, teve pouca sorte. Foi trabalhar como marçano num armazém. Acarretava às costas sacos de açúcar e outras mercadorias do armazém para as mercearias. Além disso, não era bem tratado, sentia-se infeliz.
Um dia, estava com febre altíssima, pousou o saco. Um sujeito que passava, viu-o com a cabeça encostada ao saco, pôs-lhe a mão na testa e exclamou: «Oh rapaz, estás cheio de febre! Quem é o teu patrão!?» Manuel contou-lhe a sua desdita. O senhor, (Puga de apelido, emigrante da Galiza/Ourense, onde também nasceu Júlio Iglésias Puga, pai do célebre cantor Júlio Iglésias) conhecia o patrão, teve pena dele e propôs-lhe: «Vem para minha casa trabalhar, eu vou falar com o teu patrão». Naquele tempo, os ricaços armazenistas de açúcar e ferragens conheciam-se uns aos outros.
Assim aconteceu e Manuel encontrou um «patrão para sempre». Casou com uma das suas seis filhas, Josefina. Tiveram uma filha, Adelaide. Uma das outras seis irmãs, chamava-se Catarina, mãe da minha avó Ilda, ambas nascidas no Brasil. Viviam no Pará.
Entretanto Jesofina adoeceu com tuberculose. Doença grave naquela época, tratada sòmente com cálcio e ... bons ares. Aconselharam os do Acará, para onde foi e onde acabou por falecer, com a agravante de só avisarem o marido, para o Pará, depois do seu falecimento, o que o deixou muito triste e revoltado.

Manuel esteve cerca de 30 anos no Brasil, onde fez fortuna. Regressou a Portugal trazendo a filha Adelaide, com sete anos de idade. (Ambos seriam, mais tarde, padrinhos de minha mãe).
Joaquim, que a princípio teve melhor sorte, também fez fortuna. Regressou a Portugal e passou a viver em Matosinhos, próximo do amigo de sempre. Na sua casa, dava recepções aos amigos, estando sempre a mesa posta, no salão, para os receber.
Numa dessas recepções Manuel conheceu Carlota, que viria ser sua 2ª esposa.

Manuel e Carlota eram católicos praticantes, frequentavam assiduamente a igreja. Em sua casa, em Matosinhos, havia "o quarto dos Santos". Em cima de uma cómoda, coberta por uma toalha grande, ficava o oratório. Nos cantos e de cada lado, ficavam duas colunas, com N. Senhora e S. José. Era lá que, à noite, antes de se deitarem, o casal e as três empregadas internas, se reuniam e rezavam as suas orações. No fim davam-se as boas noites e recolhiam aos seus quartos.

Manuel faleceu a 30 de Setembro de 1933 e Joaquim a 7 de Maio de 1936.

Eu, trineto do senhor "Puga" e bisneto da sua filha Catarina, nasci na cidade do Porto em 1935 (...27 dias antes de a porta da vida se fechar para Fernando Pessoa ...). Depois duma passagem intercalar de 16 anos por África/Moçambique, pela força dos ventos da descolonização, vim parar a Sines (Terra de Vasco da Gama) onde permaneço e que considero minha terra adoptiva.

Nessa época, embora se fizesse a movimentação de pessoas nos dois sentidos , era muito mais intensa de Portugal para o Brasil. Do Brasil, praticamente só emigravam certas elites.

A situação inverteu-se e massificou-se a partir da década de noventa, do século passado, estando em completa expansão. Emigrar para Portugal, passou a ser algo rotineiro.

Os brasileiros, nossos irmãos, "sentem-se em sua casa". Deverão, no entanto, ser-lhes proporcionadas mais e melhores condições para a sua integração na sociedade portuguesa.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Chicken a la carte


"Ainda há gente que não sabe, quando se levanta, de onde virá a próxima refeição e há crianças com fome que choram."

(Nelson Mandela)

domingo, 3 de janeiro de 2010

"Serenata à Chuva"



Chove bastante. Uma semana atrás de outra. Invade-me uma certa melancolia. Em vez dela os alertas próprios da idade que o meu médico vai colmatando nas visitas semestrais que lhe faço e a minha mulher na alimentatação mediterrânea que criteriosamente confecciona. O meu bem haja a ambos por contribuírem para eu chegar ao 2010 num estado de saúde tão aceitável quanto os meus setenta e ... tais permitem.

Já não me julgo capaz de tentar imitar Gene Kelly (embora outros o possam fazer) na "Serenata à Chuva", filme que vi e admirei nos longínquos anos 50, na Primavera da minha vida.

Resta-me aguardar pela Primavera.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O bom senso

O bom senso é a coisa melhor partilhada, pois cada um pensa estar bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em qualquer outra coisa não costumam querer mais do que aquele que já possuem.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Vasco da Gama

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!
.............................................
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
(Fernando Pessoa)