Porto de Sines

Porto de Sines

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Fontes d'Alte - Fonte PEQUENA [2/3]


Descobrir o país real é sempre uma surpresa.


É o caso das  Fontes de Alte, situadas no leito da ribeira de Alte, que são um dos ex-libris daquela Aldeia.


Caminhando de juzante para montante da ribeira vamos descobrindo os encantos e os recantos das suas Fontes.

A jusante da ponte que se segue, na margem esquerda da ribeira, patos e cisnes espanejam-se e secam-se regaladamente ao sol.


Eis um trecho dum local aprazível e refrescante com o arvoredo envolvente reflectido nas suas águas puras e cristalinas.


Um espaço com um monumento para homenagear o poeta Candido Guerreiro com a imagem em azulejo e num quadro também em azulejo  um seu soneto como segue: 


Porque nasci ao pé de quatro montes
Por onde as águas passam a cantar 
As canções dos moínhos e das pontes
Ensinaram-me a falar...

Eu sei a vossa língua, águas das fontes...
Podeis falar comigo águas do mar...
E ouço, à tarde, os longínquos horizontes
Chorar uma saudade singular.

E porque entendo bem aquelas máguas
E compreendo os íntimos segredos
Da voz do mar ou do rochedo mudo,

Sinto-me irmão da luz, do ar, das águas,
Sinto-me irmão dos íngremes penedos,
E sinto que sou Deus, pois Deus é tudo...

Candido Guerreiro
À memória do grande poeta Altense



Esta fonte pequena de água corrente [lembrança de um filho  da terra 1948 ] encimada por uma quadra do poeta.

OH FONTE DE ÁGUA CORRENTE
TODOS TE PEDEM FRESCURA
TENS BEIJOS DE TODA A GENTE
E NÃO DEIXAS DE SER PURA


O monumento supramencionado está integrado num parque de merendas com mesas e bancos de pedra.

A tradicional nora  com os seus alcatruzes anuncia o  Fonte Pequena Restaurante Bar


As águas cristalinas e o arvoredo majestoso  são uma constante na ribeira de Alte.

Um logradouro encastoado no monte decorado com torres e ameias.


[cajoco]

sábado, 19 de novembro de 2011

RECANTOS d'Alte [1/3]

Alte fica situada a pouca distância da costa marítima e, no entanto, longe da sua agitação no centro geográfico do Algarve, na transição do Barrocal para a Serra. É considerada a mais típica e pitoresca aldeia do Algarve.

.
Nada melhor, para apreciarmos  a beleza dos recantos maravilhosos desta aldeia, que  retratá-la, calcorreando subindo e descendo as suas calçadas.


Num belo e acolhedor espaço logo à entrada da povoação depara-se-nos um parque de merendas, com bancos e mesas em madeira, convidando  o visitante a puxar do farnel e degustá-lo à sombra amena de uma oliveira e de uma alfarrobeira, ladeadas por forte vegetação.

Segue-se o incontornável carroço com rolamentos de esferas encimando um bloco de pedra da região.


O monumento em honra de José Cavaco Vieira [1903-2002], ilustríssimo Altense, multifacetado, que se distinguiu não só como autarca, mas também como grande entusiasta pela etnografia popular da sua região, contribuindo decisivamente para a sua divulgação.
Depois de reformado dedicou-se à pintura, escultura e música..


Mais acima, a tradicional nora, para tirar água dos poços, e que, cada vez mais, vai sendo uma memória do passado.


Podemos ainda apreciar gente simples [sob o olhar atento de um par de matrafonas] trocando dois dedos de conversa, fazendo certamente contas à vida.


A Pastelaria Água Mel [designação deveras sugestiva], célebre pelos seus doces, apresenta um agradável acolhimento e atendimento a preços convidativos. 


A dona da pastelaria disponibilizou-se atenciosamente para tirar uma foto evocativa da nossa passagem. 


Da varanda esplanada  desfruta-se a maravilhosa paisagem serrana incrustada de extensos pomares.


O Cantinho do Artista, chamou-nos também a atenção pela sua singularidade, demonstrando que a arte é ali um tema privilegiado.


Um controverso acordeão, obra d' arte um pouco contestada localmente, não a considerando muito representativa do Rancho Folclórico d'Alte, mas que nós apreciamos.


Na praça da aldeia, o artesanato e as lojas de artesanato são ainda actividades importantes da população.



A CASA d´ALTE


Um recanto característico da aldeia, com as suas casas brancas decoradas com flores vibrantes.


Outro pormenor  de Alte e as das suas calçadas.


A Igreja Matriz cuja construção remonta aos fins do Século XIII.


Outra vista  da igreja com a sua cruz manuelina.











As suas chaminés de forma variada, rendilhadas ou com simples ranhuras, coroam os telhados das suas casas brancas e projetam-se no azul do céu.



                                                 Texto e fotos: cajoco


sábado, 12 de novembro de 2011

A APANHA da AZEITONA

Numa modesta casa térrea só com uma divisão, junto ao largo da feira, habitava o feitor António Lereno, com a mulher e os dois filhos, Gentil e o Artur. Não havia privacidade e intimidade.

A lareira ficava a um canto desnivelado. Ao lado, da janela nas traseiras, desfrutava-se uma vista maravilhosa sobre o vale e a encosta onde corria o ribeiro dos moinhos de água. As necessidades básicas insatisfeitas daquela família, certamente não davam azo ao desfrute daquela magnífica paisagem rural.

No ângulo da lareira e em cima do sobrado, todos comiam a sua refeição principal, servida num prato enorme. Quem mais depressa se despachasse melhor alimentado ficava.

Um dia, depois duma dessas refeições, o bom do Sr. António desabafou com o Dr. Belarmino, quando este o interpelou: «Então, homem, o que é se passa!? Está cá com uma cara! «Deixe-me cá o estapor da minha mulher faz-me suar para a acompanhar».

No princípio do Inverno, em Dezembro, o feitor acompanhava  o pessoal na apanha da azeitona.
Normalmente eram assalariados quatro homens. As mulheres eram recrutadas às ranchadas e pagas com cereais, vinho azeite, etc.

Eu gostava de dormir na Ribeira ao pé dos homens que dormiam  no chão em mantas por cima da palha e as mulheres, igualmente acomodadas, noutro lado.

O feitor, de inteira confiança do Dr. Belarmino, – o circunspecto, honesto e leal António Lereno – de madrugada, quando os galos anunciavam o nascer do dia, tocava o búzio para o pessoal – homens e mulheres – se levantarem, comerem uma bucha e seguirem para os olivais: Saraiva, Sulfata, Pescoça, Sardoal e Vale da Sancha.


Ali, a partir do nascer do Sol, os varejadores varejavam a azeitona para cima dos toldes, estendidos à volta dos pés das oliveiras, onde as mulheres a apanhavam de seguida, enchendo os sacos que os homens carregavam nas bestas que de seguida os transportavam para o lagar.

O Dr. Belarmino e a D. Lurdes, por vezes, acompanhavam na sua casa da Ribeira a apanha da azeitona. Acompanhavam-nos a Sra. Bertinha e a Gentil. A Sra. Bertinha fazia a comida e tratava da casa, a Gentil ia para a apanha da azeitona com as mulheres. As duas dormiam num quarto da casa.

No último dia da apanha da azeitona, cerca do meio-dia, tinham lugar as filhós – o prémio de ter acabado o serviço. Era uma pequena festa de encerramento da apanha da azeitona. Patrões, feitor, homens e mulheres confraternizavam comendo as filhós – fritalhada de bôlas de farinha azeite e ovos – pão, queijo azeitonas, chouriço, regados com uma boa pinga de vinho tinto.

[cajoco]

Imagem: Google







quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A Caça de Outrora em Vilarinho

A caça e o mundo rural estão interligados por razões de subsistência e sociabilidade. Faz parte da idiossincracia dos habitantes rurais que se transmite de pais  para filhos.


Em Outubro abria a tão ansiada época oficial da caça.

O «Carrasqueira», meu vizinho, na rua da Calçada, era um bom caçador, tinha dois cães perdigueiros e um furão, animal de utilização na altura proíbida. Era usado pelos caçadores para entrar nas tocas dos coelhos obrigando-os a sair, ficando ao alcance do tiro do caçador. O «Carrasqueira» tinha o seu furão dentro de uma espécie de tubo em cortiça, com furos num dos topos e uma tampa de abertura no outro. Leite e soro faziam parte da alimentação do furão.


O Armando Mesquita, pai do Armandito, da Isaura e da Alicita, também fora caçador, e muitos mais havia em Vilarinho.

A zona de Vilarinho era rica e privilegiada em termos de caça. Para lá até acorriam caçadores do Porto, propositadamente para caçar.

De manhã, mal o sol abria os olhos por detrás dos penedos, os caçadores lá partiam a pé de espingarda ao ombro e cartucheira à cintura; espalhavam-se pelos montes povoados por tojos, giestas, silvas e outra vegetação de pouco préstimo, não obstante esconderem os coelhos que cães e homens procuravam. Incitavam os cães com «busca!!, busca!!» e outras palavras e sons. Eram preciosos para obrigar os coelhos a abandonar os silvedos  e os matagais.

Caçava-se mais, a cada passo que caçador dava, achava um bando de perdizes ou uma «carrada» de coelhos, a caça mais atratível. Mais raras eram as lebres um complemento muito apetecível.

Ao meio-dia era a hora do almoço, hora de confraternização. Sacavam dos farnéis, das botelhas e engoretas de vinho e aí vai disto.

Da parte de tarde já a caça não tinha o mesmo entusiasmo e rendia pouco. Os caçadores já um pouco cansados regressavam ao povoado, exibindo  os proventos da caçada.

Para a próxima vez haveria mais.

[CAJOCO - CAÇADOR IMPROVISADO]


Imagens [furão e coelho] Google