Porto de Sines

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quarta-feira, 22 de maio de 2013

"AS MINAS DE SALOMÃO"



Eu e o meu irmão, éramos assíduos espectadores de cinema. Era de longe o nosso passatempo favorito.                     

No entanto essa assiduidade era limitada pela falta de milho para comprar os bilhetes, como a seguir se verifica.

A minha madrinha ofereceu-me o livro – «As minas de Salomão» – uma tradução de Eça de Queiroz – como presente pela passagem do meu 15º aniversário. Custou 20$00. Li-o com interesse e gostei muito.




 


Corria no cinema Carlos Alberto, na cidade do Porto, um filme que queríamos ver. Naquela altura – como em muitas outras – não tínhamos o dito  milho para comprar os bilhetes. Resolvemos então, embora um pouco a contragosto, vender aquele livro num alfarrabista que ficava próximo daquele cinema. 

Na montra tinha o seguinte anúncio: 
«Pagam-se bem livros de Eça de Queiroz». 

Pensamos que o livro poderia render à volta de uns 10$00. O preço dos bilhetes de 2ªplateia – os mais baratos – era de 3$50 cada. O alfarrabista ofereceu 3$00. Nada feito.
Fomos a outro no Campo dos Mártires da Pátria. Este ofereceu ainda menos – 2$00.

Resultado, não fomos ao cinema e viemos com o livro para casa.  

Tempos difíceis do antigamente, que nos fazem lembrar os tempos de hoje em que se vivem "perplexidades acrescidas".


cajoco

Foto: Google




quinta-feira, 2 de maio de 2013

"O Cai - Cai"

Decidi recuar no tempo e contar-vos uma singela história dos tempos da minha infância em Trás-os-Montes.


O Cai – Cai era um pobre homem que deambulava de povoação em povoação, mendigando uma côdea de pão ou uma malga de caldo ou de soro para mitigar a fome. Andava andrajoso, sempre com uma inseparável corneta.

Tinha um espírito muito bom e muito paciente para com a garotada [de que eu fazia parte] que o apoquentava gritando-lhe: «Toca a gaita Cai – Cai…! Toca a gaita!»

E o bom do homem lá tocava a gaita e fazia umas pantominas a troco de uns tostões.





O Cai-Cai aparecia e desaparecia de Vilarinho. Até que deixou de aparecer. Então circulou na boca do povo a novidade de que tinha sido comido pelos lobos, que só lhe deixaram os pés dentro das botas. Foi uma notícia que entristeceu toda a gente. 

O Cai - Cai nunca mais foi visto.


cajoco