Eu e o meu irmão, éramos assíduos espectadores
de cinema. Era de longe o nosso passatempo favorito.
No entanto essa assiduidade era limitada pela falta de milho para comprar os bilhetes, como a
seguir se verifica.
A minha madrinha ofereceu-me o livro – «As minas de
Salomão» – uma tradução de Eça de Queiroz – como presente pela passagem do meu
15º aniversário. Custou 20$00. Li-o com interesse e gostei muito.
Corria no cinema Carlos Alberto, na cidade do Porto, um filme que queríamos ver.
Naquela altura – como em muitas outras – não tínhamos o dito milho para comprar os
bilhetes. Resolvemos então, embora um pouco a contragosto, vender aquele livro num alfarrabista que ficava
próximo daquele cinema.
Na montra tinha o seguinte anúncio:
«Pagam-se bem
livros de Eça de Queiroz».
Pensamos que o livro poderia render à volta de
uns 10$00. O preço dos bilhetes de 2ªplateia – os mais baratos – era de 3$50 cada.
O alfarrabista ofereceu 3$00. Nada feito.
Fomos a outro no Campo dos Mártires da Pátria. Este ofereceu
ainda menos – 2$00.
Resultado, não fomos ao cinema e viemos com o livro para
casa.
Tempos difíceis do antigamente, que nos fazem lembrar os tempos de hoje em que se vivem "perplexidades acrescidas".
Tempos difíceis do antigamente, que nos fazem lembrar os tempos de hoje em que se vivem "perplexidades acrescidas".
cajoco
Foto: Google