Porto de Sines

Porto de Sines

sábado, 29 de maio de 2010

A Vida




A vida e o sobrenatural
A vida é um apontamento à margem
Das leis que regem o universo.
Ela é apenas uma passagem,
Que tem face e nada se sabe do verso.

O verso, se o houver,
Será a razão explicativa
Da razão de viver
E da razão de outra vida.Então tudo será natural,
Tudo estará certo.
A explicação do sobrenatural
Estaria sempre assim tão perto.

[cajoco]

domingo, 23 de maio de 2010

O meu irmão

Jorge & Zito

O nosso irmão é boa companhia,
tanto na tristeza como na alegria.
O nosso irmão faz-nos sentir poesia,
abrindo uma janela que só ele sabia.

Um irmão delicado que nos fala verdade,
e nos ajuda a viver a nossa liberdade.
Tu estás, meu irmão tão a mim ligado,
que nesta ocasião só te digo obrigado.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O "Vilares Alfaiate"


Alfaiate é uma profissão picuinhas. Uma profissão aparentemente fácil vista por quem está de fora.
O cliente, depois de escolher o tecido, levava-o ao alfaiate para fazer o fato. Este marcava-o com giz afiado, cortava o modelo escolhido pelo cliente e alinhavava-o. Tirava as provas, entrando aí as costureiras, sempre presentes num bom alfaiate.
O alfaiate Vilares morava para lá da rua Costa Cabral. Era um homem sempre bem disposto, tendo sempre algo para contar durante as provas. Foi o alfaiate recomendado pelo Amílcar, filho da D. Purificação Barbosa, dono da “Pastelaria Castelar” em Costa Cabral, próxima do cinema Júlio Dinis.
Depois de mudarmos para a Rua Padre Cruz, passou a ser também o nosso alfaiate. Fez fatos, para mim e para o Zito.
Recordo um fato, em tecido cheviote azul, com riscas brancas. O feitio era de trespasse.
Fizemos as provas, tudo correu bem. A entrega estava prevista para o fim-de-semana seguinte.
Passamos tardes inteiras de três fins-de-semana, à janela, ansiosos a aguardar a entrega dos tão almejados fatos – normalmente entregues, por uma costureira, em casa do cliente.
Os fatos, nada de aparecerem. Metemos os pés ao caminho e fomos ver o que se passava. Estavam como tinham ficado após a última prova. O senhor Vilares não se desmanchou, contou-nos umas das suas belíssimas histórias e garantiu-nos que, no próximo fim-de semana teríamos os fatos prontos, o que realmente aconteceu num domingo de manhã.
Eu, e o meu mano, esquecemos todas as peripécias das esperas, enfiamos as farpelas novas e toca de ir passear.
Desabafo do Zito: «Oh Jorge! Os nossos fatos podem não ser os melhores, mas de certeza que são os mais novos de todos». E lá andamos felizes da vida a passear pelo Porto.
Antes de sair, passava a ferro o meu fato e a camisa, a preceito.
Gostava de vestir bem. Só vestia o fato novo aos domingos e em ocasiões solenes. O Zito, pelo contrário, enfarpelava-se quando lhe apetecia.
No intervalo das aulas, no então Liceu D. MANUEL II, para o almoço, mal chegava a casa, arregaçava as calças para não gastar as bainhas e tirava a gravata para não a sujar ou manchar. Só que, por vezes, esquecia-me de baixar as bainhas das calças e saia assim para a rua. As miúdas riam-se, e eu pensava que estava a fazer boa figura. Só mais tarde dava conta, por mim, ou por me chamarem a atenção.

sábado, 15 de maio de 2010

A pedrinha









Confie...


As coisas acontecem na hora certa
Exactamente quando devem acontecer!
Momentos felizes, louve Deus.
Momentos difíceis busque Deus.
Momentos silenciosos, adore Deus.
Cada momento, agradeça a Deus.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

JANTINHA?!?!

Esta é de doer....

A pergunta foi: qual é a função do apóstrofo?
[Para quem não se lembre, o apóstrofo é aquele "risquinho" que serve para suprimir vogais entre duas palavras....

Ex: caixa d'água

E a resposta imperdível merece um troféu:

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O "Aníbal Ferrador"

Os piões e a baraça

A caixa das ferramentas



Naquele tempo, os artífices eram designados pelo nome próprio agregado ao da profissão: "Aníbal Albardeiro", "Artur Alfaiate", "Fernando Latoeiro", "Alfredo Sapateiro", etc. , ou então, prevalecia uma característica do aspecto físico: "João Grande"[barbeiro], "Horácio Manco"[ferrador] e outras designações: "Pressas"[serrador], "Fala Barato"[carpinteiro] e por aí adiante...

Era ao "Aníbal Ferrador" que, eu e os outros garotos, recorríamos para substituir os ferrões de origem dos nossos piões, por outros maiores e mais afiados, a fim de competirmos no jogo do pião, dando maiores nicas e por conseguinte infligindo maiores estragos, aos dos nossos "adversários". [Alguns preveniam-se com outro pião só para levar nicas].
O bom do Senhor Aníbal, tinha uma pachorra infinda para aturar as nossas madurezas.
Quando tinha trabalho na forja e/ou na bigorna, dizia: " Deixem pra aí os piões e venham precurá-los daqui a um cibo.
E, daí a um cibo, lá estávamos novamente para levar os piões prontos artilhados com ferrões de competição, novezinhos em folha.
Quanto é Senhor Aníbal? - peguntávamos. Não é nada, pagam soitordia.
Era também o "Aníbal Ferrador” [pai do Albano, meu colega de classe, na Escola Primária] , sempre bonacheirão, atencioso e bem disposto, [não dispensava os seus copitos do tinto e de aguardente bagaceira destilada na alquitarra ], quem substituía, com muita competência, as ferraduras da Carriça - uma magnífica égua, de grande estimação, do meu pai.
Então, de costas viradas para o animal, levantava-lhe a pata e começava por desferrá-lo, arrancando os cravos da ferradura, a fim de a soltar do casco. Seguidamente, sempre com a caixa da ferramenta à mão, aparava a base do casco com um formão, procurando adaptar-lhe a ferradura nova em ferro, afeiçoada prèviamente na bigorna. Uma vez adaptada a ferradura, fixava-a com os cravos a martelo, que apareciam mais acima no casco, dobrando-os com o martelo e cortando-os com a turquês. Por fim, com a grosa, limava o rebordo do casco à face exterior da ferradura.
Ferrar um cavalo demorava cerca de uma hora. As más ferrações podem deixar cavalos coxos.
Os bois e alguma besta mais brava, tinham que ir ao tronco, situado no Eirô, ao fundo das traseiras do adro da Igreja, onde eram ferrados com a pata amarrada com uma soga.
O meu colega Albano, feita a 4ª classe, emigrou para o Brasil...Nunca mais os nossos caminhos se cruzaram na estrada desta vida.
... Cresci, estudei, cabulei e... um dia, fiz as malas, evadi-me das minhas raízes, embarquei no Cais de Alcântara, a bordo do paquete Moçambique, na rota de Vasco da Gama, até... Moçambique.
O "Anibal Ferrador" ficou na amnésia selectiva da minha memória.
Sete anos depois retornei, de licença graciosa, à Metrópole.
Num fim de tarde, depois da sesta [costume estival, naquele tempo] ia a pé com o meu pai para o campo, quando a mulher do "Aníbal Ferrador", muito aflita, se lhe dirige: "Senhor doutor o meu homem parece que tem a atriz [icterícia].
O médico foi ver o doente e constatou que padecia de cirrose, já num estádio tão adiantado que, no dia seguinte, o acompanhou de comboio até ao Porto, deixando-o internado e recomendado no Hospital de Santo António.
Passados dias, já noitinha, passou uma ambulância na rua e, pouco depois, o médico foi chamado para ir ver o "Aníbal Ferrador".
De regresso a casa, após um longo silêncio, o médico desabafou: "O Anibal Ferrador" não deve passar desta noite". E foi assim que, no dia seguinte, o bom do Senhor Aníbal, que evoco com muito carinho e emoção, entregou a alma ao Criador...