Porto de Sines

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Anjo de Timor / PAUSA

O Anjo de Timor é um conto sobre a noite em que nasceu Jesus.


Há muitos, muitos anos, em Timor, vivia um liurai muito poderoso e muito bom. Na sua juventude, resolveu ir correr mundo, para se tornar mais sábio.

Foi viajando de barco, de ilha em ilha, até chegar a uma terra distante. Ali, um dia, conheceu um mercador vindo de muito longe, dos países do lado do poente, e que também ele andava há longos anos em viagem.

Esse mercador contou-lhe que, na sua viagem, tinha ouvido contar que, ainda muito mais longe, para além das montanhas, oceanos e dos imensos desertos de areia, vivia um povo que adorava um Deus único e todo-poderoso, criador de todas as coisas e do próprio homem. Acredita que o seu Deus, um dia, descerá à Terra para salvar todos os homens.

- Quero ir ao país onde mora esse povo - disse o timorense. - Quero ouvir mais notícias do Deus que um dia descerá dos céus e viverá entre nós.

- Ai, é impossível - respondeu o mercador. - Esse país fica tão longe que, mesmo se viajasses a tua vida inteira, não conseguirias lá chegar.

E assim ficaram falando toda a noite, mas, no dia seguinte, o mercador partiu de barco para a sua terra. Quando o barco desapareceu ao longe, o liurai pensou:

- Já vi tantos lugares e tantos povos, mas não posso encontrar o povo que adora o Deus único, porque, memsmo que viajasse a vida inteira, não conseguiria lá chegar. Por isso, de que me serve viajar mais?

E voltou para a sua terra.

Foi uma viagem longa, comprida e difícil. Quando chegou à sua casa era alta noite e já todos dormiam. Estava tão cansado que, mal entrou, adormeceu estendido no chão. E enquanto dormia, ouviu em sonhos uma voz que lhe disse que esperasse, esperasse sempre, pois um dia, a meio da noite, Deus lhe mandaria um sinal.

Na manhã seguinte, a família do liurai recebeu-o com grande alegria, porque a viagem durara anos e anos, e já ninguém sabia se ele era vivo ou morto. Os seus pais mandaram chamar parentes e amigos e nessa tarde todos cantaram e dançaram para festejar o seu regresso. mas quando todos partiram e os que moravam com ele adormeceram, o liurai foi-se sentar à porta da sua casa, à espera do sinal de Deus. Ali ficou, mudo e atento, e só depois do meio da noite foi dormir.

Daí em diante, foi sempre assim. Durante o dia, o liurai encontrava-se com os seus amigos e parentes e presidia à vida e aos trabalhos da população. Era um chefe amado e respeitado, porque era bom, justo e sábio.

Mas à noite, quando todos tinham adormecido, sentava-se de novo sozinho, à porta da sua casa, à espera de um sinal de Deus. Escutava os barulhos da noite, o suspiro do vento nas árvores, a voz do mar ao longe, respirava os perfumes da noite - cheiro da terra, aroma das flores, aroma do sândalo, cheiro distante do mar. Olhava sem fim o brilho das estrelas.

À medida que os anos passaram, ia envelhecendo, mas todas as noites se sentava à entrada da sua casa, à espera do sinal de Deus. Pousava sempre ao seu lado a pequena caixa de sândalo, que tinha lá dentro as pedrinhas com as quais na sua infância jogava o hana-caleic.

E, de vez em quando, abria pequenas poças na terra e, como na sua infância, brincava com as pedras do caleic.


Mas às vezes tinha medo da noite e sentia-se sozinho, como se Deus não o estivesse a ver. Então dizia:

- Meu Deus, não me abandones. Vê-me

E numa noite assim, quando ele se sentia tão cansado e tão só, mais uma vez levantou a cabeça e olhou para as estrelas. Então viu levantar-se do Oriente uma grande estrela claríssima e luminosa que, muito devagar, atravessava o céu.

E o universo inteiro ficou mudo e atento. De súbito, uma voz altíssima cantou:

- Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade.

E o liurai viu na sua frente um jovem todo vestido de luz. E reconheceu que ele era o mensageiro de Deus, porque na sua cara brilhava uma alegria imensa.

E o jovem disse:

- Alegra-te, liurai, porque o Deus que tanto tens esperado se fez homem e desceu hoje à terra. É uma criança recém-nascida e está deitado num curral de animais, em cima de um molho de palha. mas todos os anjos lhe cantam louvor e em breve chegarão os pastores para o adorar. E dentro de poucos dias chegarão os três reis magos do Oriente, que vêm seguindo a estrela. Eles, de joelhos, adorarão o Menino e cada um lhe há-de oferecer um presente. Gaspar traz uma caixa com oiro, Melchior uma caixa com mirra e Baltasar uma caixa com incenso.

- Quero ir com eles, exclamou o chefe timorense.

- É impossível. Belém fica tão longe que, nem que caminhasses a tua vida inteira, lá chegarias.

- Então tu, anjo, que és mais rápido que o pensamento, leva a meu presente ao Menino. É uma caixa de sândalo que tem lá dentro as pedras com que eu brincava ao caleic quando era pequeno.

- Foste tu o único que te lembraste de Lhe mandar um brinquedo. Quando os reis chegarem - respondeu o anjo -, eu estarei com eles e poisarei a tua caixa em frente ao Menino!

Mal o anjo desapareceu, o liurai encostou-se a um pilar da sua casa e adormeceu na paz do Senhor.

A partir de então, sempre que se celebra o Natal, o anjo de Timor ajoelha-se ao lado dos reis magos, em frente ao presépio que há no céu, e oferece ao Menino o presente do velho liurai.

Este Natal, o anjo de Timor ajoelhou-se e disse:

- Menino Deus, Príncipe da Paz, Deus Todo-Poderoso, lembra-te do povo de Timor que por ti foi confiado à minha guarda. Senhor, escuta as suas preces, vê o seu sofrimento. Libertai-os do seu cativeiro, dai-lhes a paz, a justiça, a liberdade e a plenitude da Vossa graça. Glória a ti, Senhor!

Um liurai é um rei, chefe, timorense.

E tu, que em tantas coisas és rei, também terás a tua oportunidade perante o Menino. Tens muitos dias e noites, uma grande viagem para treinares.

Que este Natal seja para ti um nascimento de vida e paz no teu coração.


Timor já saiu do cativeiro, mas ainda falta muito tempo para que a paz, a justiça, a liberdade e a plenitude da Graça de Deus se manifestem em toda a sua. Glória.


PAUSA: Por motivos pessoais, apelando à vossa tolerância e amizade, permito-me fazer uma PAUSA a fim de respirar Ar, Sol e Caminhar mais um pouco à Beira Mar, procurar um reequilíbrio nas oscilações da vida,  encontrar-me comigo próprio e com a minha Família.

REENCONTRAR-NOS-EMOS tão breve quanto possível. BEM HAJAM!!

Imagem da Internet
Texto Sophia Mello Breyner

24 comentários:

Regina Rozenbaum disse...

Jorge, amigo, amado!
Não conhecia esse conto e confesso que me emocionei por demais...
Vá meu amigo, vá descansar, caminhar, desfrutar da família, dos amigos, de você!
Desejo um NATAL ABENÇOADO, com muita LUZ e a proteção constante DELE...a você e a todos.
Beijuuss iluminados n.c.

Unknown disse...

Conto muito bonito.Obrigada pela partilha.

Abraço.

Janita disse...

Jorge amigo.
Este conto magnífico, que nos contou, é uma lição de Fé e Perseverança. Gostei muito e voltarei para o reler.
Faça uma pausa, meu amigo! Saia para respirar, sentir o sol e caminhar por onde gosta:à beira-mar.
Oxalá encontre o reequilíbrio que procura. REENCONTRAR-NOS-EMOS!
Beijo amigo.
Janita

Guma disse...

Jorge estimado amigo.
A melhor altura para retemperar é quando o corpo e a alma nos roga por isso.
O conto que aqui partilhou é mais um ensinamento, a força e enrgias que não devemos perder ao longo do percurso por mais doloroso que esteja a ser.

Vim também para desejar ao meu amigo, um Natal com muita paz interior e saúde.

Kandando sincero

Unknown disse...

Esqueci-me do tempo neste texto maravilhoso que no final mostrou uma autora de peso.
A história pode ser simples mas se for bem contada será sempre um momento alto na posterior leitura.

Anónimo disse...

Olá, Jorge!

O passado longínquo e o ainda bem presente na memória das coisa recentes, aprecem aqui habilmente entrelaçados. Quem porfia sempre alcança,e a fé move montanhas, poderia ser a moral a daqui retirar, nesta história muito bem contada.

Feliz Natal; Boas Festas, e, já agora, bom descanso!

Um abraço amigo.
Vitor
Vitor

Maria Rodrigues disse...

Magnifico como sempre!
Aproveito para desejar a si e a toda a sua família e amigos, um Feliz Natal, repleto de alegria, saúde, paz e amor.

“A Melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio de nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham em nossa caminhada pela vida.” (desconhecido)

Que a Luz e o Espírito de Amor do Natal, consigam prevalecer nos nossos corações ao longo de todos os dias do ano que está a chegar, para seja sempre Natal.

Beijinhos
Maria e familia

Laços e Rendas de Nós disse...

Um Feliz Natal!

Beijo

lis disse...

Adorei o conto Jorge ,uma história que nos ensina a perseverar .
Quantas vezes achamos que nao estamos sendo ouvidos nas orações que fazemos!
Esse conto bem resume o que aprendi quando adolescente nas escolinhas domminicais ,
Há de perseverar e vigiar!
Lindo demais e a poeta portuguesa nos seus contos é tão boa quanto nos poemas .
Li algo dela sobre o Natal e os pinheiros tambem muito lindo.
Uma boa semana de Natal e que tenha um dia lindo junto de pessoas queridas.
abraços Jorge

FlorAlpina disse...

Olá Jorge,
Gostei de ler este conto, obrigado pela partilha, não conhecia.

Bom descanso nesta quadra natalícia.
E obrigado a si pelas palavras sempre amáveis que me tem derigido.

Bjs dos Alpes, com votos de Boas Festas

Osvaldo disse...

Caro amigo Jorge;

Lindissimo conto, que desconhecia e ainda bem que na blogodfera vamos encontrando estes belissimos achados da nossa cultura.

Boas férias de Natal e bom regresso depois das Festas Natalícias.

Para o Jorge e familia um Santo e Feliz Natal.

Um abraço,
Osvaldo

Rosane Marega disse...

Jorge meu querido, Feliz Natal e um Ano Novo Abençoado junto aos seus!
Beijos no coração

Graça Pereira disse...

Lindo este conto que deste a conhecer a todos. Obrigada.
Feliz Natal para ti e todos os teus.
Beijo
Graça

Regina Rozenbaum disse...

Jorge, amigo, amado!
Fiquei tão feliz em vê-lo hoje no divã...
Quanto tempo né? Mas ainda em tempo nesse 2010 de deixar meus votos...
Que façamos no ano que se inicia 365 novas oportunidades...
Que a coragem não nos falte para retomar nossos sonhos...
Que a vontade de amar os concretize em instantes de felicidade!
Beijuuss iluminados n.c.

O Divã nosso de cada dia

Graça Pereira disse...

Passo para te desejar um Ano Novo muito Feliz, repleto de coisas boas.
Beijo
Graça

Anónimo disse...

Olá, Jorge!

Com desculpas pelo atraso, a verdade é que só agora, e por acaso, dei conta do seu comentário no blogue já desactivado.
Mas como o novo ano apenas começou, estarei certamente a tempo de corrigir o lapso.

Obrigado pelos votos de novo ano, que retribuo com muito gosto e prazer.
Feliz 2011, cheio de coisas boas, especialmente saúde, paz e amor, já que o resto sempre se há-de arranjar...
Um abraço amigo.
Vitor

http://vitorchuvashortstories.wordpress.com/

Maria Rodrigues disse...

Amigo, passei para agradecer a sua presença sempre constante no meu humilde cantinho e para desejar um excelente ano 2011, que seja um ano de realizações pessoais e profissionais, sonhos realizados, alegrias constantes, saúde, paz, amor e novos projectos por que lutar.
Feliz Ano Novo!
Beijinhos
Maria

Graça Pereira disse...

Querido Amigo
Como foi a passagem de ano?
Que 2011 nos una a todos e que a meta ganhe um obgectivo único de amizade e de paz!
Beijos
Graça

Anónimo disse...

Querido amigo!
Bons passeios, boa reflexão, BOM ANO! E... volte bem e depressa!
Abraço

Janita disse...

Jorge, querido amigo.
Vim reler o conto e reflectir na mensagem que nos quis transmitir.

Jorge, por vezes precisamos dar um tempo a nós mesmos. Parar para pensar, reencontrar o equilíbrio emocional e o ânimo perdido.
Penso que há algo muito importante e que não podemos esquecer, durante esse processo. É o sermos tolerantes e compassivos com nós mesmos.
Há uma pergunta que eu gostaria de lhe fazer. Se o Jorge me responder de forma negativa, eu prometo que não volto a pedir-lhe para voltar.

Jorge, não estará a auto-impor-se uma carga demasiado pesada e a sofrer com isso?

Pense meu amigo e dê-me a resposta pela via que melhor entender.

Beijos com todo o meu respeito, ternura e muito afecto.
Janita

Anónimo disse...

Ola Jorge, fiquei sobremodo encantada com esse conto, que Deus se compadeça do Timor e de todas as pessoas que vivem nesse mundo.
Espero que regresses logo.
Um forte abraço.

Graça Pereira disse...

Amigo Jorge
Está tudo bem contigo? Desististe do blog?
Dá notícias!
Beijo
Graça

Laços e Rendas de Nós disse...

Jorge

Tem passado tempo e lembro-me constantemente de si.

Esse seu silêncio preocupa-me. Está tudo bem?

O Jorge faz falta neste pedacinho seu que consideramos de todos nós.

Diga alguma coisa. Fico à espera.

Beijo

Guma disse...

Estimado amigo Jorge.
É a saudade dos seus artigos e de sua presença nesta roda de amigos que aqui me trás, mas o mais importante é saber se o amigo está bem?
Faz-nos falta a sua presença. Espero, esperamos todos de certeza, que esteja de saúde.
Respeitando a sua pausa, mas preocupado, envio o meu kandando amigo e reitero a saudade e a falta que nos faz.