Porto de Sines

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quinta-feira, 2 de maio de 2013

"O Cai - Cai"

Decidi recuar no tempo e contar-vos uma singela história dos tempos da minha infância em Trás-os-Montes.


O Cai – Cai era um pobre homem que deambulava de povoação em povoação, mendigando uma côdea de pão ou uma malga de caldo ou de soro para mitigar a fome. Andava andrajoso, sempre com uma inseparável corneta.

Tinha um espírito muito bom e muito paciente para com a garotada [de que eu fazia parte] que o apoquentava gritando-lhe: «Toca a gaita Cai – Cai…! Toca a gaita!»

E o bom do homem lá tocava a gaita e fazia umas pantominas a troco de uns tostões.





O Cai-Cai aparecia e desaparecia de Vilarinho. Até que deixou de aparecer. Então circulou na boca do povo a novidade de que tinha sido comido pelos lobos, que só lhe deixaram os pés dentro das botas. Foi uma notícia que entristeceu toda a gente. 

O Cai - Cai nunca mais foi visto.


cajoco


13 comentários:

Laços e Rendas de Nós disse...


Bela história, que perdurou e hoje foi (um) presente, que nos ofereceu.

Beijo e obrigada por esta partilha.

Laura

Graça Pereira disse...

Há pessoas que marcam a nossa vida, infância ou adolescência, pela figura caricata, diferente e até feia mas,sobretudo, pela sua bondade que nós, nos verdes anos, captamos logo. Por isso, é que o Cai Cai dorme na tua imaginação.
Gosto destas histórias,pela sua verdade.
Beijo e bom fim de semana.
Graça

Luna disse...

triste a história, mas que fica gravada nas mentes das crianças
beijos

Andradarte disse...

Que história triste....Fico esperando uma mais feliz...
Abraço

Rafael Castellar das Neves disse...

Legal, Jorge!! E que fim trágico para o Cai-Cai, hein?

[]s

São disse...

Que tristeza de vida a desse senhor...

E ainda hoje há quem viva em abandono, mesmo estando com companhia - nalguns casos.

Bom fim de dia

By Me disse...

As histórias reais quase sempre têm um final infeliz, trágico... confortam as boas recordações de infância ...

Anónimo disse...

Olá, Jorge!

E o mistério até hoje permaneceu...na morte dum homem com uma triste história de vida.

Que em lembra um outro,lá na aldeia, conhecido pelo Manel das tamancas, que pagava a esmola recebida citando passagens da bíblia - que parecia conhecer bem.

Outros tempos, que sobe outra forma aqui estão de novo...

Bom fim de semana; abraço amigo.
Vitor

franciete disse...

Olá outra vez meu bom amigo, adoro histórias do passado eu por sinal tenho muitas, mas o meu marido já contava uma também desse genero, ele é de Tondela e a minha sogra era de uma terriolazinha ali perto que também pertence a Tondela...então contava de um rapaz que foi namorar e ao voltar para casa também foi comido pelos lobos e diz que também ficaram os pés diziam até que era a parte do corpo que os lobos não comiam...vá-se-lá-saber o porquê?

desejo uma linda semana com tempo bom para ir fazendo a sua praia uma vez que tem aí a nossa costa tão linda e maravilhosa, beijinho meu amigo.

Regina Rozenbaum disse...

Se é esse o instrumento que está na imagem postada, por aqui lembrou-me o "berrante"...que o boiadeiro toca ao lado do gado. Da história... a tristeza. Existe Cai-Cai em todos os lugares, infelizmente.
Beijuuss Jorge

Unknown disse...

Depois de ler esta história fiquei a sonhar e a reviver tantas que ouvi contar.
Aqui está um retrato de um tempo que não voltará mais.
Os nossos meninos hoje nascem programados pela ciência do tempo e os programas da Net.
Não aprenderam a brincar nem a amar as pessoas que passam nas suas vidas de todos os dias.
Um abraço amigo.

Existe Sempre Um Lugar disse...

faz parte de uma historia real como muitos em todo o Portugal, pessoas que nunca foram consideradas por falta do reconhecimento como humano como outro qualquer.
António Aleixo foi um poeta popular que só foi reconhecido depois de morrer, era objetivo no que escrevia.

Uma mosca sem valor

Poisa, c'o a mesma alegria,

Na careca de um doutor

Como em qualquer porcaria.

António Aleixo

Jorge disse...

Amigos/as,
É só paea deixar um abraço, agradecer os vossos comentários, que, para mim, são excelentes e excelente companhia.
Todos fomos crianças e o regresso ao passado é irresistível.
De todas as figuras que passam pela memória da minha infância a do Cai-Cai é das mais vivas.