Eu e o meu irmão, éramos assíduos espectadores
de cinema. Era de longe o nosso passatempo favorito.
No entanto essa assiduidade era limitada pela falta de milho para comprar os bilhetes, como a
seguir se verifica.
A minha madrinha ofereceu-me o livro – «As minas de
Salomão» – uma tradução de Eça de Queiroz – como presente pela passagem do meu
15º aniversário. Custou 20$00. Li-o com interesse e gostei muito.
Corria no cinema Carlos Alberto, na cidade do Porto, um filme que queríamos ver.
Naquela altura – como em muitas outras – não tínhamos o dito milho para comprar os
bilhetes. Resolvemos então, embora um pouco a contragosto, vender aquele livro num alfarrabista que ficava
próximo daquele cinema.
Na montra tinha o seguinte anúncio:
«Pagam-se bem
livros de Eça de Queiroz».
Pensamos que o livro poderia render à volta de
uns 10$00. O preço dos bilhetes de 2ªplateia – os mais baratos – era de 3$50 cada.
O alfarrabista ofereceu 3$00. Nada feito.
Fomos a outro no Campo dos Mártires da Pátria. Este ofereceu
ainda menos – 2$00.
Resultado, não fomos ao cinema e viemos com o livro para
casa.
Tempos difíceis do antigamente, que nos fazem lembrar os tempos de hoje em que se vivem "perplexidades acrescidas".
Tempos difíceis do antigamente, que nos fazem lembrar os tempos de hoje em que se vivem "perplexidades acrescidas".
cajoco
Foto: Google
17 comentários:
Uma verdade que não posso contestar...infelizmente, meu querido amigo. Porém, como me disseste: dias melhores virão!
Beijinho
Dias melhores, desde aquela época, vieram, não foi? E virão meu amigo!!!
Beijuuss Jorge
Rê,
Melhores dias vieram, felizmente. Agora, se virão outros? Duvido!
Olá, Jorge!
O cinema era mesmo uma tentação, só que o sovina do alfarrabista não quis fazer o jeito.
Espero que a madrinha não tenha tomado conhecimento do gesto...
Já quanto a melhores dias, só nos resta acreditar - mesmo que sem convicção...
Abraço amigo; bom fim de semana.
Vitor
Recordar é viver....
Estes tempos...são mais dificeis..!!
BFS
Abraço
¸.•°❤❤⊱彡
Infelizmente o único livro de Eça de Queiroz qui li foi "O primo Basílio" e confesso que na época fiquei furiosa com o desfecho da história.
Boa semana!
Beijinhos do Brasil.
¸.•°❤❤⊱彡
Assim era, assim é!
A cultura foi sempre o parente pobre neste "jardim à beira mar plantado".
Um beijo
Bateu pena de voces! rs
Hoje as coisas são tão mudadas_ o 'milho'continua dificil mas nem precisamos de ir ao cinema _ temos em casa,
abraços Jorge
Cara amiga Franciete,
Grato, como sempre, pela sua estimada visita.
Nos nossos quinze anos cometem-se, por vezes, certos desvarios. Este foi um deles.
Ainda bem que o livro regressou ao lugar de onde nunca deveria ter saído.
Quem viveu esses tempos está mais
preparado para a crise de agora
(embora sendo difícil aceitá-la)
agora os jovens de hoje que
estavam habituados a tudo...
deve ser muito difícil para eles
e para os pais.
Bj.
Irene Alves
Amiga Irene,
Eu e os meus irmãos éramos, até certo ponto, privilegiados. Mas convivemos com muita miséria e, isso deixou muitas marcas na memória.
Olá meu querido Cajoco, eu costumo dizer que vale mais um gosto do que 3 vinténs na algibeira mas neste caso valia bem mais o livro...quantos filmes não passaram nessa cabecita ao ler esse tão lindo livro.
Pois é meu querido coisas da mocidade que mais tarde até agradecemos a Deus por elas não se terem raizado...já estava escrito que um dia ia deixar essa relíquia para os netos meu querido tenha um bom dia com beijinhos de luz desta sua amiga que gosta muito de si.
4 De Junho de 2013 às 23:57
Não fui ao cinema porque vivíamos na aldeia. Lembro-me ainda de algumas fitas que passavam à noite no adro da Igreja.
Estava tudo ansioso por saber o que era aquilo...depois riam e brincavam ...fomos ao cinema ...aquilo foi melhor que um cinema...mas que fita...
A falta de milho era geral.Parece que hoje os nossos meninos não tem essas privações...
lo que era un juego de niños puede hoy ser un drama de adultos. saludos
oteArt,
Um verdadeiro drama que nos irmana, amigo.
Penso que a 28 de dezembro de 2012 fiz um post com o mesmo título!
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