Retomando a história do domínio árabe na Península Ibérica giramos à volta da figura lendária de Al Mu'tamid Ibn Abbad político-poeta, que nos legou um património único que urge preservar, dar a conhecer e reviver.
Com a queda do Califado de Córdoba e na ausência de um poder aglutinante, surgiram na Península Ibérica em 1031, uma série de reinos independentes, movidos e disputados pelas diferentes forças locais: árabes, moçárabes e convertidos.
É neste ambiente de disputa que os Abábidas criam a Taifa de Sevilha, que cedo engloba a região do Gharb e Silves, Al Mu'tamid Ibn Abbad, Senhor de Sevilha, torna-se também senhor de Silves, e nomeia como Governador o seu filho Al Mu'tamid Ibn Abbad, nascido em 1040 em Beja, que fará de Silves a sua capital, a partir de 1053.
É ao lado de Ibn Ammar, poeta natural da região [Estombar] e que se tornará seu amigo, que Al Mu'tamid reúne em Silves uma corte de intelectuais, poetas e geógrafos, [Mariame Alansari, Assilba, Ibn Qasi, Ibn Badrum, etc.] que farão de Silves uma capital, não só política como administrativa, mas também cultural, atingindo um esplendor nunca visto e uma importância considerável em todo o Extremo Ocidente.
É neste ambiente de disputa que os Abábidas criam a Taifa de Sevilha, que cedo engloba a região do Gharb e Silves, Al Mu'tamid Ibn Abbad, Senhor de Sevilha, torna-se também senhor de Silves, e nomeia como Governador o seu filho Al Mu'tamid Ibn Abbad, nascido em 1040 em Beja, que fará de Silves a sua capital, a partir de 1053.
É ao lado de Ibn Ammar, poeta natural da região [Estombar] e que se tornará seu amigo, que Al Mu'tamid reúne em Silves uma corte de intelectuais, poetas e geógrafos, [Mariame Alansari, Assilba, Ibn Qasi, Ibn Badrum, etc.] que farão de Silves uma capital, não só política como administrativa, mas também cultural, atingindo um esplendor nunca visto e uma importância considerável em todo o Extremo Ocidente.
A vida de Al Mu 'tamid / Poeta do Destino está na poesia e a poesia na sua vida.
É dele este poema:
É dele este poema:
Inocultável
por receio de quem espia
com muita inveja a roer
ela não veio nesse dia
pra assim traída não ser
pla luz do rosto esplende,
plas jóias a tilintar,
e plo perfume do ambar
a que o corpo rescende.
é que ao rosto, com manto,
tapá-lo inda poderia,
e as jóias entretanto,
fàcilmente as tiraria,
mas a fragância do encanto
pra ocultá-la que faria?
por receio de quem espia
com muita inveja a roer
ela não veio nesse dia
pra assim traída não ser
pla luz do rosto esplende,
plas jóias a tilintar,
e plo perfume do ambar
a que o corpo rescende.
é que ao rosto, com manto,
tapá-lo inda poderia,
e as jóias entretanto,
fàcilmente as tiraria,
mas a fragância do encanto
pra ocultá-la que faria?
Em 1069, Al Mu'tamid deixa Silves e torna-se rei de Sevilha confiando Silves ao seu amigo Ibn 'Ammar.
O relacionamento entre Al' Mutamid e Ibn 'Ammar torna-se cada vez mais difícil, possessivo e inclusivamente ofensivo, chegando ao ponto de Ibn 'Ammar compor poemas em que ridiculariza 'Itimad, a bela mulher do rei-poeta, conhecida na corte de Sevilha como a Saídat-al-Kubra [a grande senhora], odiada por muitos juristas e religiosos prontos a traírem o seu nome e do seu soberano.
O relacionamento entre Al' Mutamid e Ibn 'Ammar torna-se cada vez mais difícil, possessivo e inclusivamente ofensivo, chegando ao ponto de Ibn 'Ammar compor poemas em que ridiculariza 'Itimad, a bela mulher do rei-poeta, conhecida na corte de Sevilha como a Saídat-al-Kubra [a grande senhora], odiada por muitos juristas e religiosos prontos a traírem o seu nome e do seu soberano.
A AL MU'TAMID
Nada me move, meu príncipe,
Senão a tua vontade.
Contigo vou,
Como viajante noturno
Guiado pelo clarão dos relâmpagos.
Queres voltar para a tua amada?
Vai num rápido veleiro
E seguirei no teu encalço,
Ou salta antes para a sela,
Contigo irei também.
E quando,
Graças à protecção divina,
Chegarmos aos umbrais do teu palácio
Permite que torne sòzinho à minha casa.
Não percas tempo a sacar da espada!
Lança-te aos pés da que tem a cintura delicada
E compensa-a do tempo perdido.
Beija-a e aperta-a contra o peito.
E murmurem vossas bocas
Meigas e doces palavras,
Como os pássaros se respondem mutuamente
Em suaves cantos ao romper de alva
Nada me move, meu príncipe,
Senão a tua vontade.
Contigo vou,
Como viajante noturno
Guiado pelo clarão dos relâmpagos.
Queres voltar para a tua amada?
Vai num rápido veleiro
E seguirei no teu encalço,
Ou salta antes para a sela,
Contigo irei também.
E quando,
Graças à protecção divina,
Chegarmos aos umbrais do teu palácio
Permite que torne sòzinho à minha casa.
Não percas tempo a sacar da espada!
Lança-te aos pés da que tem a cintura delicada
E compensa-a do tempo perdido.
Beija-a e aperta-a contra o peito.
E murmurem vossas bocas
Meigas e doces palavras,
Como os pássaros se respondem mutuamente
Em suaves cantos ao romper de alva
Perdoa e ganhará o amor
Um outro realce, outra beleza.
É que se punires será o rancor
A tomar mais evidência e mais clareza.
(...)
Perdoa! O que partilhamos me redime
Nos espaços perfumados do Allah
Apaga os vestígios do meu crime!
Venha da clemência o teu soprar
E tudo enfim desaparecerá.
(...)
Que se eu morrer, fique contigo
Uma réstea de consolação.
Morrerei mas levarei comigo
A violência da minha afeição.
Um outro realce, outra beleza.
É que se punires será o rancor
A tomar mais evidência e mais clareza.
(...)
Perdoa! O que partilhamos me redime
Nos espaços perfumados do Allah
Apaga os vestígios do meu crime!
Venha da clemência o teu soprar
E tudo enfim desaparecerá.
(...)
Que se eu morrer, fique contigo
Uma réstea de consolação.
Morrerei mas levarei comigo
A violência da minha afeição.
Poemas escritos por Ibn 'Ammar
Ibn 'Ammar trai várias vezes Al Mu'tamid que em nome do passado sempre lhe perdoa, mas no final acaba por mandar prendê-lo e mata-o na sua cela.
O final do reinado do rei-poeta fica marcado pelas ameaças cristãs ao seu reino, que o levam a pedir apoio ao novo soberano de Marrocos, Yussuf Ibn Tachfin, líder da Dinastia Almorávida e fundador da cidade de Marraquexe.
A entrada dos Almorávidas na Península é impiedosa, unificando o território sob o seu poder e desterrando Al'Mutamid e sua mulher 'Itimad para Agmat, nos arredores de Marraquexe, onde terminam os seus dias num miserável cativeiro.
"Grilheta, não sabes que já sou teu?
Porque és dura e sem piedade?
Se esse ferro deste sangue já bebeu
E a minha própria carne já morde
Não me roas os ossos por maldade."
Poema escrito por Al Mu'tamid
O final do reinado do rei-poeta fica marcado pelas ameaças cristãs ao seu reino, que o levam a pedir apoio ao novo soberano de Marrocos, Yussuf Ibn Tachfin, líder da Dinastia Almorávida e fundador da cidade de Marraquexe.
A entrada dos Almorávidas na Península é impiedosa, unificando o território sob o seu poder e desterrando Al'Mutamid e sua mulher 'Itimad para Agmat, nos arredores de Marraquexe, onde terminam os seus dias num miserável cativeiro.
"Grilheta, não sabes que já sou teu?
Porque és dura e sem piedade?
Se esse ferro deste sangue já bebeu
E a minha própria carne já morde
Não me roas os ossos por maldade."
Poema escrito por Al Mu'tamid
Túmulo de Al Mu'tamid
Actualmente a figura de Al Mu'tamid constitui mais do que nunca o ponto de convergência de sábios, poetas, historiadores, linguistas ou responsáveis políticos para recuperação de um passado comum e uma estratégia de cooperação entre Portugal Espanha e Marrocos.
Fonte:Internet
13 comentários:
Mais um excelente texto,grato pela partilha.
Abraço.
Manuel Marques,
Grato pela sua atenção e presença assídua que, per si só, dignifica este espaço de partilha e amizade.
Um abraço,
J
Um património imenso que tem demorado muito a ser reconhecido.
Obrigada pela informação sempre pouca para quem, como eu, estou a aprender com os seus textos.
Beijo
Amigo, que lição de história extraordinária, um artigo magnifico, parabéns, adorei!
Aproveite ao máximo o fim de semana, viva cada momento com alegria e deixe entrar a felicidade no seu coração.
“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.” (Oscar Wilde)
bom fim de semana
Bjs do tamanho do infinito
Maria
Olá Jorge!
Gostei do que li, em particular da poesia. Com uma tão longa presença e influência no território que hoje é Portugal, parece-me que a cultura Árabe é muito pouco divulgada entre nós , como se em relação a ela existisse preconceito ou embaraço, pelo facto de a ela nos encontrarmos ligados...Será assim?
Um abraço amigo.
Vitor
Olá, acácia rubra!
Ao escrever os textos sou o primeiro a aprender. Ainda bem que essa aprendizagem reverteu em benefício da minha amiga.
Bj
J
Olá Maria,
Infinitamente grato pela habitual presença e gentileza nas suas opiniões.
O mundo precisa de mais pessoas como a Maria.
Ao investigar também aprendo; aliás, aprendo sempre com postes e comentários seus.
Vou procurando mostrar estar vivo.
Abr amigo
J
Viva Vitor!
Obrigado amigo pelo seu comentário e chamada de atenção ao preconceito que ainda vai existindo acerca da divulgação da cultura árabe.
Cinco séculos de soberania árabe não poderiam deixar de se traduzir numa profunda influência no génio lírico dos Portugueses.
Silves e a sua região gozam de fama poética na história árabe.
João de Deus [poeta de S. Bartolomeu de Messines] foi um dos maiores líricos da literatura portuguesa.
Um abraço,
Jorge
Entrei na expectativa e saio mais culta,gostei muito da poesia, e desde sempre o homem faz atritos uns com os outros tão depressa está por cima como pode ser derrubado pelos amigos
Bj
o blog tem o meu interesse por causa o assunto .A história dos arábes em Portugal .
cumprimentos de Antuérpia
Gostei de aprender...E como eles vieram para comandar, mandar no nosso País...
Vá que tudo passou e temos a nossa soberania..
Um beijinho da laura
Olá Luna,
Nós ibéricos, somos o cruzamento de duas civilizações - a romana e a árabe.
Os árabes gozam da fama de ser o mais poético dos povos. Os portugueses são seus parentes na mesma família poética.
Abrs
J
alfacinha,
Bem-vindo. Foi bom ler o seu comentário. Oportunamente referirei a influência dos árabes na no génio lírico dos portugueses.
Saudações luminosas do Farol de Sines.
J
Olá Laura,
Obrigado pela presença, sempre gentil, no azimute.
É bom termos a nossa soberania, mas a cultura e a poesia árabes estão presentes e soberanas nas suas congéneres portuguesas.
bjis
J
Olá, eu estive aki, te li, te re li, e aki te sigo, te leio, retorno e te persigo, amei seu cantinho e tudo que nele encontrei.
com carinho
Hana
Hana!
Bem-vinda! Obrigado pelas palavras amáveis que "aki" deixou. Volte sempre.
Saudações cordiais!
J
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