Porto de Sines

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sexta-feira, 26 de março de 2010

A Quadra Pascal

A minha memória já não é a mesma de outros tempos. Mesmo assim gosto mais de recordar que comemorar.
A Páscoa era também uma festa de grandes tradições. Era precedida da Quaresma, quadra de sacrifícios.
Na minha infância, no Domingo de Ramos, todos levavam o ramo de oliveira – mais ou menos ataviado – para ser benzido na missa.
Durante a Semana Santa - a semana da Paixão de Cristo, em que os Santos estavam tapados, havia uma certa contenção de todos, face à solenidade da ocasião.
Assim, o tão conhecido folar, representava simbolicamente o presente dos padrinhos aos afilhados, impondo-se como preceito irem recebê-lo a casa dos padrinhos no Domingo de Páscoa [ir pedir o bolo]. Ritual precedido da entrega do ramo de oliveira dos afilhados aos padrinhos no Domingo de Páscoa.
Faziam-se os folares de carne e os folares doces. Andava tudo numa azáfama. A boa da D. Purificação, prima do meu pai, vinha para nossa casa tratar da sua confecção. Esta tinha os seus segredos, principalmente no modo de amassar a farinha, - de forma que ficasse muito leve - na distribuição da carne, dos ovos [chegavam a gastar-se quinze dúzias de ovos] que em formas de chapa eram levados para assar no forno comunitário de lenha, onde cada família fazia a sua massa.
Na Sexta-feira Santa, o andor do Senhor dos Passos, saía da Capela do Calvário e percorria toda a aldeia em procissão acompanhada pela banda de música, que tocava música sacra.
No Sábado da Aleluia, ao bater do meio-dia, o sineiro tocava os sinos da igreja e os garotos, eu incluido, corriam para ver qual era o primeiro a tocar os sinos nas capelas da aldeia.
No Domingo de Páscoa, antes da missa, o padre percorria a aldeia com o Palio. [O Palio era um sobre-céu portátil, suspenso por meio de varas, que servia nas procissões para cobrir o padre] .
À frente, o Gilberto transportava o crucifixo. [O Gilberto era uma figura típica de Vilarinho. O seu fervor religioso só era ultrapassado pelo gosto da «pinga»; era um bom copo, benza-o Deus].
As pessoas mais notáveis da aldeia eram convidadas para pegar nas varas do Palio. Eu e o amigo Reinaldo, por vezes, pegávamos nas duas primeiras varas do Palio, em substituição dos nossos pais.
Seguia-se a missa, no fim da qual o Padre percorria a aldeia com Senhor e entrava nas casas abençoando-as e ao mesmo tempo tirando o compasso e recebendo os donativos dos paroquianos, nas casas que visitavam.
Era assim a Quadra Pascal na minha aldeia...

28 comentários:

Unknown disse...

Gostei do texto.

Boa Páscoa.

Abraço.

Unknown disse...

Cada terra tem seu uso, e cada roca tem seu fuso.
Por aqui as coisas eram um pouco diferentes.
Os sinos só repicavam no Domingo de Pascoa.
Durante a Quaresma os Santos eram escondidos com uns panos pretos e as flores dos altares desapareciam.
As boas festas tinham início após a missa dominical e num só dia corriam aqui metade desta freguesia.
A outra parte ficava para a segunda feira.
Quando chegavam a nossa casa, altas horas da noite alguns já vinham pingados.
Boas recordações.
Aqui em casa não se faziam folares nem outros bolos, mas havia na aldeia quem se preocupava sempre dessa parte.

Joaquim do Carmo disse...

Olá Jorge, boa noite!
Passei para lhe agradecer a sua visita e palavras!
Boa Páscoa e um abraço

Joaquim do Carmo disse...

Só para acrescentar que vou ficar a segui-lo, se me permite!
Um abraço

Regina Rozenbaum disse...

Jorge,amado!
Agradeço amigo, todo o seu carinho com aquelas palavras que me emocionaram tanto...OBRIGADA!!!! FELIZ PÁSCOA prá vc e todos os seus.
Beijuuss n.c.

www.toforatodentro.blogspot.com

Vitor Chuva disse...

Olá Jorge!
Olhando para a forma permonorizada com que descreve a sequência de acontecimento que conduziam à Páscoa, não me parece nada que a sua memória não tenha colaborado na tarefa ...felizmente!
Na minha aldeia as coisa não eram muito diferentes; a Páscoa era levada muito a sério, quando ainda por lá havia padre. Hoje não sei, confesso.
As minhas memórias da mesma estão mais ligadas à parte mais doce; aos folares que a minha mãe fazia, em forno a lenha,com aqueles ovos bonitos a decorar, de gosto incomparável.
Depois, era o ir "tirar o folar", que consistia do dito mais um pacote de amêndoas, e, às vezes, um dinheirinho para o bolso.Desse tempo, e da ocasião, guardo boas memórias.
E as do Jorge estão lindamente contadas.
Boa Páscoa; um abraço.
Vitor

Jorge disse...

Manuel Marques,
Grato pela sua opinião, que certamente valoriza o tema.
Páscoa Feliz.

Jorge disse...

direitinho,
A sua opinião atenta, é a de um amigo solidário.
Tem razão. Os costumes variam de terra para terra; ainda bem que assim é. Além de ser a festa da ressurreicão de Jesus Cristo é também a festa dos padrinhos e principalmente dos seus afilhados.
Ainda tenho madrinha, veja lá. Fez no dia da publicação desta postagem... 98 anos.
O melhor para si.
Jorge

Jorge disse...

Olá Quicas! Permita-me que o trate assim.
Bem-vindo a este espaço aberto á partilha de pensamentos, preocupações e deambulações que ocorrem, sabe-se lá como e porquê, ao nosso pensamento.
Conte comigo.
Um abraço.

Jorge disse...

Rê Amiga,
Ainda bem que o pior já passou para si. A saúde é o nosso melhor bem e há que lutar por ela.
Deselho-lhe uma Páscoa Feliz e a melhor saúde.
bj amigo.
Jorge

Jorge disse...

Viva Vitor!
Aguardo sempre com expectativa as suas conceituadas opiniões e, ao mesmo tempo,procuro os agradáveis temas que publica.
Os costumes das nossas terras coexistem em muitos aspectos e... o dinheirinho ofertado pelos padrinhos era também sempre bem-vindo.
Agradeço e retribuo os votos de Boa Páscoa.
Um abraço.
Jorge

Graça Pereira disse...

A tua descrição da Páscoa e Quaresma trouxeram-me gratas recordações porque, tirando um ou outro pequeno pormenor, era assim na cidade Moçambicana de Quelimane...exactamente, porque, os portugueses levaram para África os costumes das suas aldeias e a Semana Santa Africana passou a ter um cunho misturado do Norte a Sul de Portugal.
Um Bom Domingode Ramos.
Beijo
Graça

Luna disse...

No norte do país ainda há varios locais que é bem parecido com o teu texto, no entanto vimos que tudo se vai desvanecendo aos poucos, em especial os mais novos já não participam

beijitos

Jorge disse...

Graça,
Em Lourenço Marques (Maputo) também era assim no que se refere à parte religiosa. Quanto a outras tradições divergiam um pouco de lugar para lugar para lugar.
Boa Páscoa.
J

Aqui - Ali - Acolá disse...

Olá Jorge bom dia:

Grato fico por sua visita a meu Blogue.

Sobre este seu texto muito bem delineado, faz-me lembrar também em outro tempo esta data Pascal, onde hoje se festeja de forma um pouco diferente mas com o mesmo sentido no íntimo de cada pessoa que a festeja.

Seria bom que o mundo reflectisse bem esta data para ser um mundo melhor mas, infelizmente assim não acontece porque o coração dos homens não são todos iguais.

Bom início de semana e uma Páscoa feliz lhe desejo.

Guma disse...

Jorge, caro amigo!
Vim primeiro de tudo agradecer a sua amizade e apoio. Naturalmente não poderia deixar de ler este artigo, pois sou apaixonado pelos costumes, gastronomia, enfim tudo o que conta a história duma região pelas diferenças são o que de mais rico um país tão pequeno como o nosso, tem. Nós construirmos-nos a partir dessas vivências.
Volto a reiterar o meus agradecimentos pela força que me deu através do meu forte e sentido kandando.

Regina d´Assis disse...

Os tempos passam e os hábitos mudam, já pouco se vê essas tradições, mas o folar docinho é que tem de estar sempe presente.

Beijinhos e Boa Páscoa.
RA

Jorge disse...

Multiolhares,
Na província ainda se mantem algo da tradição.
Agora, os padrinhos e os afilhados, andam numa azáfama à procura das prendas.
Saudações amigas.

Jorge disse...

Aqui-Ali-Acolá,
O meu agradecimento pela sua amável opinião. Foi um regresso a um passado feliz.
Segui-lo-ei sempre com agrado.
Feliz Páscoa para si.

Jorge disse...

Kimbanda Amigo,
Sinto-me feliz e tranquilo pela sua renovada e amiga presença. Consigo tudo se torna mais fácil neste espaço de partilha de ideias e de ideais. A força que o amigo diz que lhe dei, tornou-me um pouco mais forte. Kanimambo.
Um forte abraço.

Jorge disse...

Regina predilecta,
As últimas são as primeiras. Obrigado pela tua opinião, que muito considero.
O folar é sempre bom, assim como eram e são boas as amêndoas torradas de Moncorvo que, o teu avô, tanto apreciava.
Tudo de bom para ti.
Bjis.

Osvaldo disse...

Caro Jorge;

Bela crónica de tradições vividas e que hoje raramente se festejam.

Revejo-me em muito do que o Jorge narrou nas tradições da Páscoa.

Um abraço,
Osvaldo

luis cordeiro disse...

Jorge amigo, o Zito está contigo !!!
Mas que foto magnifica e que texto mais rigoroso !!!
São a representação fiel de um passado.
É assim que uma simples foto, associada ao registo de uma memória com alma, eternizam um passado.
Aqui fica um grande abraço e votos de uma Santa Pascoa.

Graça Pereira disse...

Passei para te desejar uma Santa e feliz Páscoa.
Beijo
Graça

Jorge disse...

Amigo Osvaldo,
Congratulo-me pela sua abalizada opinião. Tudo o que possuímos é memória; esta crónica foi mais um exercício.
Um abraço.

Zito solidário,
A foto vale pela recordação de quem nela está presente.
No texto, com algumas lacunas, procurei recordar a Páscoa em Vilarinho. Ainda bem que apreciaste.
Um abração para ti.

Graça PESSOA amiga,
Obrigado pelos votos de Santa Páscoa, que retribuo com amizade, sendo ainda extensivos a todos os meus amigos virtuais.
Jorge

Vitor Chuva disse...

Olá Jorge!

Obrigado pelo comentário no meu blog, e aproveito para renovar os votos de Páscoa Feliz, com uns folares docinhos.

Uma abraço!
Vitor

Guma disse...

Caro amigo Jorge,
Venho estas más horas mas sem fazer muito barulho para não incomodar e deixar os meus votos de um feliz domingo de Páscoa e claro deixar o meu forte e especial kandando para si

Regina Rozenbaum disse...

Jorge, amado!!! Cadê você????
Passei rapidim só prá dizer que deixei um mimo procê lá no blog! Depois eu volto com calma.
Beijuuss n.c.

www.toforatodentro.blogspot.com