Porto de Sines

Porto de Sines

segunda-feira, 26 de abril de 2010

QUASE


Ainda pior que a convicção do não,
e a incerteza do talvez,
É a desilusão de um Quase!

É o Quase que me incomoda,
que me entristece,
que me mata
trazendo tudo o que poderia
ter sido e não foi

Quem quase ganhou
ainda joga!

Quem quase passou
Ainda estuda!

Quem quase amou
Não amou!

Basta pensar nas oportunidades
que escaparam pelos dedos,
nas ideias que nunca sairam do papel,
por essa maldita mania
de viver no Outono.

Pergunto-me, às vezes,
o que nos leva a escolher
uma vida morna.

A resposta eu sei de cor, está estampada
Na distância e na frieza dos sorrisos
Na frouxidão dos abraços,
Na indiferença de um bom dia quase que sussurrado

Sobra covardia e falta de coragem até para se ser feliz.
A paixão queima! O amor enlouquece! O desejo trai!

Talvez estes fossem
bons motivos para decidir
entre a alegria e a dor

Mas não são.

Se a vida estivésse mesmo
no meio-termo...

O mar não teria ondas!
Os dias seriam nublados!
O arco-íris em tons de cinza!

[Sarah Westphal]

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Quem não se lembra?!!!



Rádio Clube de Moçambique
Mensagem de Boas Noites

Para todos os que viajam a bordo dos barcos que percorrem os sete mares.
Bom tempo e boa viagem!

Para os humildes guardiões do oceano, os faroleiros, que iluminam os escolhos da beira-mar.
Que a paz desça sobre a vossa solidão e paire longe o perigo do nevoeiro!

Para as tripulações das linhas aéreas, cruzando alto o céu dos cinco continentes.
Que o perigo se afaste do vosso voo e que as aterragens sejam seguras!

Para os que trabalham e viajam nos comboios, através desta África imensa.
Que a viagem prossiga sem sobressaltos e em segurança!

Para os que conduzem viaturas ao longo das estradas solitárias e mergulhadas na treva.
Que saibam moderar a velocidade e que regressem sãos e salvos ao lar!

Às mães que docemente debruçam sobre os berços a sua inquietação.
Que durmam em paz e acordem repousadas e tranquilas!

Aos soldados da paz e aos que guiam ambulâncias.
Que Deus vos proteja dos perigos e riscos das vossas nobres profissões!

Aos médicos e enfermeiros que socorrem os doentes e exaustos.
Que Deus vos abençoe na vossa missão de misericórdia!

Aos que vivem no mato e a ele deram a sua juventude, as suas forças, os seus sonhos.
O nosso pensamento vai para vós, para o isolamento e a luta constante das vossas vidas.

E a todos os demais que nos ouvis, onde quer que vos encontreis, sãos ou enfermos.
Que esta mensagem de fraternidade chegue, através do éter, aos vossos corações.

BOA NOITE E QUE A BENÇÃO DO CÉU DESÇA SOBRE VÓS!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O BARDO DO SONHO

O bardo do sonho dura desde o momento de se começar a dormir até ao momento de se acordar e inclui o sonhar e o dormir sem sonhar. Adormecer é considerado semelhante ao processo de morrer, dado que a consciência gradualmente se vai esvaindo. O estado inconsciente que ocorre quando o sono nos toma é encarado como sendo a mente a descansar no seu estado natural. Para utilizar oportunidades que este bardo oferece, é necessário ver a vida acordada normal como insubstancial e ilusória, como o estado do sonho - prática do "corpo ilusório".
A prática do corpo ilusório procura inverter a nossa dependência da vida comum consciente através de práticas destinadas a controlar os sonhos, simples emanações da vida de sonho. Uma interpretação do bardo do sonho pode assim levar-nos a uma visão da natureza ilusória de todos os fenómenos, à medida que nos apercebemos que a nossa vida acordada não é diferente do estado de sonho.

in O Caminho Tibetano

terça-feira, 13 de abril de 2010

Borda d'água

À borda d'água
Longa caminhada na costa
Dilui-se toda a mágoa
A Natureza já foi reposta.

Só as pegadas na areia
Ficam como sinal humano
De dor, e o vento me premeia
Como esponja apago o dano.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O "minério" e o "racionamento"











Nas guerras há sempre «riquezas» feitas rapidamente quando está em causa a utilização de um bem que a mão humana pode retirar à terra.
O minério, era assim que o povo se expressava quando se tratava do volfrâmio, cujo período áureo se verificou no início da 2ª Guerra Mundial, quando o negócio de exploração do volfrâmio nas minas estava em plena laboração. Toda a gente, de Vilarinho e das povoações mais próximas, se dedicou a essa actividade, trabalhando como mineiros, nas minas, ou por conta própria .
O volfrâmio, era usado na composição do metal duro do armamento militar.
Existia na freguesia de Vilarinho da Castanheira uma mina denominada Portela.
O povo andava alvoroçado, como que contaminado pela prosperidade local.

Eu não fugia à regra. Ia para a varanda, e lá de cima, quando me apercebia que alguém passava na rua com um pedaço de minério na mão, exclamava: «Isca! Isca! Se não iscar catanho não peta». [Riscando a parte negra e brilhante do minério; se a cor do risco daí resultante fosse castanha, comprovava a existência de volfrâmio].
Ocorriam ainda grandes rivalidades, na exploração e comercialização do volfrâmio. Algumas famílias passaram a degladiarem-se, por divergências nos locais de prospecção do volfrâmio. Perderam-se vidas nas minas, devido aos desabamentos de terras e rixas .
Um jovem, filho da terra, morreu soterrado num desabamento de terras da mina – todos conseguiram fugir, ele ficou lá, esmagado.
Alguns fizeram bons negócios e enriqueceram com o volfrâmio. Compravam-no e guardavam-no em sacos debaixo das camas. Posteriormente transportavam-no, de noite, para as separadoras no Porto. Aí, o minério puro era apurado e o teor de volfrâmio vendido, ao princípio aos alemães, depois aos ingleses.
Foi uma «época de oiro». Toda a gente «fazia» dinheiro, era também «época do contrabando e das candongas» .

Os novos ricos faziam gala da sua ostentação, exibindo: dedos recheados de aneis, canetas de tinta permanente no bolso, junto à lapela do casaco, os melhores chapéus [o chapéu era o luxo de qualquer pessoa], " lendo" o jornal de pernas para o ar, ou então recorrendo aos garotos da escola para lhes escreverem as cartas e lerem as notícias; outros continuaram pobres, fazendo jus ao ditado. "O dinheiro mal ganhado água o deu água o levou"...

Em contraponto com esta euforia de pseudo-riqueza, resultante da exploração do volfrâmio, ocorriam muitas situações de miséria e de pobreza. O acesso aos bens essenciais de mercearia estava limitado pelas senhas de racionamento.
Na altura, o que se comprava e quanto, era decidido consoante o número de elementos do agregado familiar, e não só. Sem se saber porquê alguns tinham direito a mais senhas, mesmo que tivessem menos filhos.
Mesmo assim, havia muita gente sem dinheiro para levantar os artigos que lhe eram atribuídos, limitando-se a ceder as suas senhas ou até vendê-las a quem tivesse mais poder de compra, ou ainda trocá-las por batatas ou centeio.
Gasolina e petróleo praticamente não existiam à venda. Os automóveis, designados por «carros ligeiros», andavam a gasogénio. Os candeeiros a petróleo foram substituídos por gasómetros e lamparinas com azeite. O sabão era feito com borras de azeite e soda cáustica, despejadas em caixotes compridos e altos, forrados com jornais. Depois de consolidado era cortado em barras com um arame fino esticado. Era muito rijo, de cor castanha escura, e fazia com a água pouca espuma.


No fim da guerra, a exploração do volfrâmio entrou em declíneo e a solução, para muitos, foi o regresso ao amanho das suas terras, onde tinham o apoio da família.